sexta-feira, 25 de março de 2011

Entre monstros que mordem e cães que abanam o rabo

Já notou, alguma vez na sua vida que a gente aprende a “farejar” pessoas más? Estas pessoas exalam um cheiro fétido de desumanidade. Parecem seres humanos, mas são a prova da sentença de que aparências enganam.
Já os cães, excelentes farejadores ainda não desenvolveram a malandragem de desconfiar de um punhado de comida na mão alheia, neste caso, do aparente ser humano.
Pense num cão de rua, abandonado por pessoas que fazem parte de nossa vida ou pior ainda, pessoas que são a nossa vida, talvez ainda, você! (porque eu certamente não sou). Continue imaginando as sensações de dor, solidão e abandono que estes bichos sentem (ou será que você ainda pensa como Descartes que afirmou, num passado já distante, que os animais – esquecendo o homem – não sentiam nada e apenas serviam como máquinas?)
Há um quê de irracionalidade bem compreensível, não acha? Não do quadrúpede, mas do outro animal, o humano.
Minha fala é ancorada numa ação de “limpeza urbana” que vem ocorrendo em minha cidade e que visa livrar os munícipes da incômoda presença de pulgas, aglomerações caninas, enfim, uma rápida alternativa para um problema complexo e histórico.
A solução é simples: fazer com que estes monstros, (monstros?) comam um punhado de comida envenenada (comida?). Fácil assim. No outro dia é só recolher e jogar fora. Estamos bem acostumados a jogar fora... Jogamos com a própria vida de quem amamos em muitas escolhas!
Nós, seres humanos, muito pouco humanizados nestes casos de banalização da vida deveríamos pensar no todo. Intriga-me verdadeiramente saber por que o corajoso que vai resolver o “problema” dá a mão, digo, o veneno e desvia os olhos? Será que o que os olhos não veem o coração não sente? Ou será que o problema pode ser a falta de um coração conhecedor da vida, maduro, coeso e pronto pra assumir suas responsabilidades para com aqueles que dele dependem? Porque é assim que deveríamos ver estes “bichos imundos”. É produção nossa! É responsabilidade social. São problemas que todos veem, mas não percebem.
O processo de morte por envenenamento é algo ediondo. Dói para quem olha e quem doa a vida sem saber o que está acontecendo.
Olhar nos olhos de outro animal nos faz assumir uma postura de que somos igualmente importantes no mundo. Ocupamos enquanto espécie um lugar na cadeia alimentar, preenchemos uma vaga de “emprego” na natureza. Nosso nicho muitas vezes é no meio do lixo!
Estava lendo, dias destes num blog[1] alguns questionamentos que sempre faço às pessoas que reclamam demais e agem de menos.
Você já parou para olhar a quantidade de cães de rua que a cidade que você mora possui?
Você já viu um cachorro morrendo atropelado, morrendo por subnutrição, cinomose, leptospirose, parvovirose ou até coisas banais como bicheira?
Você já viu uma ninhada abandonada no meio da rua?
Você já viu um cachorro morrer envenenado?
Você sabe quantos animais são eutanasiados por dia?
Você faz ideia do sofrimento que é viver preso em um centro de zoonose ou canil?
Você sabe quanto se gasta matando e aprisionando animais por causa da superpopulação?
E aí? O que fazer? Agir como em Bogotá onde o prefeito mandou exterminar todos os animais encontrados soltos nas ruas? Ou deixar a "carrocinha" pegar estes animais para levá-los para um depósito, onde a grande maioria é exterminada?
Acho que nada disso é solução!
Vamos repensar ações contra a vida. Recomecemos enfrentando aqueles que cotidianamente abandonam sacolas repletas de filhotes indefesos nas ruas, em pátios baldios, em espaços públicos em geral...
Lembre-se que em algumas pessoas sentimos cheiro de maldade, caráter estragado e o hálito envenenado. Os cães abandonados sentem cheiro de comida e ao ver mãos estendidas abanam o rabo e aceitam o que você quiser ofertar.
O que você pode dar?

Tatiani Roland Szelest

[1] Blog Adote um Amigo. (http://amordeviralata.blogspot.com/2009/05/sobre-castracao.html)

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